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Foto do escritorSimão Santiago Madeira

Mudança e Vitória

O dia é 2 de março de 2024.

As sondagens da Universidade Católica Portuguesa não se adivinham encorajadoras para a trupe social-democrata de Luís Montenegro. Não há ninguém na sede distrital de Lisboa que não esteja com os olhos vidrados na televisão. O relógio aponta para as 19h57.

O Preço Certo está a dar, o Fernando Mendes está a cantar pela Benecar e a concorrente irá certamente perder a montra, visto que a sua margem é de apenas 500 euros, mas… Ninguém quer saber disso. Afinal, o preço certo é, para alguns, “o que for preciso para tirar o PS do poder.”


O bonito sorriso de José Rodrigues dos Santos é antecipado como se de Nossa Senhora de Fátima se tratasse. Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, o extraordinário acontece: espanto. A concorrente ganhou o Preço Certo com a mísera margem de 500 euros. Foi a festa em Campo de Ourique. Luís Montenegro subiu para uma cadeira e disse “Isto é um presságio. Esta senhora fez tanto com tão pouco, exatamente como Pedro Passos Coelho quando teve de salvar o país dos devaneios socratistas. Não percais a esperança!”


Começa o Telejornal. Afinal, o pivô é João Adelino Faria. O entusiasmo morre, lentamente, espalhando-se pela sala como que se uma gripe se tratasse (maldito SNS). A tensão é palpável, e irá culminar num único momento – a sondagem da Universidade Católica.

Montenegro, ainda na cadeira, de mãos atrás das costas, observa os resultados: “33% para o Partido Socialista, 27% para a Aliança Democrática, 14%-” e desliga a televisão. Ninguém deixa de acreditar numa vitória, mas ao mesmo tempo os resultados parecem incontornáveis. Ao sentir uma atmosfera pesada, uma voz, escondida entre as últimas cadeiras da sede, exclama “não sejam piegas”. Era Pedro Passos Coelho. Se o bonito sorriso de José Rodrigues dos Santos era Nossa Senhora de Fátima, Pedro Passos Coelho era a segunda vinda do Messias.


Luís Montenegro, que por alguma razão ainda não tinha descido da cadeira, exclama “É isso! É isso! Precisamos é de novas estratégias! Vamos fazer um brainstorm. Sala de conferências, cinco minutos”. Montenegro desce finalmente da cadeira.

Na sala de conferências encontram-se todas as maiores personalidades do centro-direita português – a maior parte nem sabia que a sede tinha uma sala de conferências, mas isto acaba por ser maioritariamente irrelevante. À cabeceira da mesa, Montenegro está atenciosamente à espera de respostas. “Precisamos de algo novo, não podemos voltar ao passado”, disse. A sala ficou ligeiramente confusa, já que nestas eleições concorria a Aliança Democrática. “Percebam”, continuou, “que o passado, o presente e o futuro são duas coisas completamente diferent-”.



“EUREKA! EUREKA! Estamos a ver isto tudo mal”, gritou Alexandre Poço, presidente da JSD, levantando-se de rompante – tinha algo de muito importante a dizer.

“Estamos a esquecer-nos de uma das partes mais importantes. Luís, o que temos de fazer é precisamente voltar ao passado. O mundo funciona como a Milan Fashion Week ou a ModaLisboa. Velho é novo, novo já é velho. A constante mudança vem em ciclos.”

Quando Alexandre Poço acabou o seu discurso, Luís Montenegro pegou no seu telefone. De olhos aguados, liga à RTP. “Calem-me mas é o João Adelino Faria, vou fazer uma conferência de imprensa de emergência, aqui e agora.” Era esperar.


O trânsito da cidade de Lisboa ressentiu-se pelo anúncio montenegrista – todos os órgãos da comunicação social se atropelavam para chegar primeiro e ter o melhor acesso às declarações que se adivinhavam inflamatórias. Iria Montenegro demitir-se? Certamente que não.


“Boa noite, cidadãos e cidadãs de Portugal. Anuncio perante vós que, para todos os efeitos oficiais, o PPD-PSD irá renunciar à designação de PSD e assumir apenas o rótulo de Partido Popular Democrata, porque apenas um partido verdadeiramente popular consegue ganhar as eleições. Se ninguém souber quem somos, se ninguém souber o que defendemos, não conseguiremos ganhar nunca. Vejam só a evolução do turismo na China desde 1949 – muito mais popular agora. Esperamos que connosco seja igual. Dia 10 de março, votem PPD.”

Assim que acabou a conferência de imprensa, João Maria Jonet visita rapidamente o Twitter. “Estamos em primeiro nas trends!”, exclama. “Somos efetivamente populares.” A trupe democrática de Montenegro, agora popular, rebenta com todas as sondagens que lhes aparece à frente: ISC/Iscte, Pitagórica, Aximage, Eurosondagem, todas elas mostravam realmente quão popular se haviam tornado. As intenções de voto da Aliança Democrática, agora verdadeiramente popular, rondava os 45% depois das histórias declarações de Luís Montenegro. Até a Universidade Católica se rendeu à sua popularidade e altamentidez.

Dia 10 de março.


23h00. Saíram os resultados eleitorais. Com uma taxa de abstenção de apenas 25% devido a um TikTok de Carlos Moedas (agora com mais de 600 mil seguidores), mais de 47% do eleitorado votou no Partido mais popular.


Ao saber dos resultados, Pedro Nuno Santos pede a António Costa que nacionalize a Dodot enquanto pode. Com a derrota, sai do Partido Socialista, e cria em seu lugar o Partido Social – com o objetivo, claro, de combater o Partido Popular

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