Estas eleições vieram trazer um problema evidente na forma como os OCS estão a conduzir os seus modelos de análise política. A futebolização do debate veio para ficar; temos pulsómetros, pontuações, análises infindáveis em diretos dos debates, comentários à postura, clubismos, a figura de moderador a levar com culpas de falhanços de condução tal e qual um árbitro num dérbi ardente. Para piorar o cenário somos reconfortados com debates com uma duração reduzida a 25/30 minutos que trazem uma compensação “até marcar” quando o jogador mais incendiário participa neles sem qualquer justificação.
Quando penso nos responsáveis por esta tragédia anunciada que está a desgastar o espaço público de comentário e análise políticos, não encontro respostas. Ninguém dá a cara para justificar os diretos non-stop, os números de 0 a 10, ou as análises parciais e cansadas - não quero culpar especialistas, que para além de admirar, acho que também eles saem prejudicados porque veem a sua imagem altamente desgastada e acabam por, ao fim de tantas horas e dias consecutivos de diretos, ir perdendo a capacidade de isenção e precisão - mas fico seriamente preocupada e aborrecida quando ligo a televisão à procura de informação e saio perdida em retóricas e escrutínio, soundbites e spins partidários. Penso que a nossa crise que atravessa a carreira dos jornalistas, a infiltração da direita radical e toda a nova era das fake news e sensacionalismo não podem ser a única justificação das edições e redações, ou dos criadores programáticos, para esta decomposição que se passa nas nossas televisões.
Relembro que quando a caminho de umas eleições com uma suspeita de cerca de 15% de indecisos e com a ameaça do radicalismo instalada na nossa democracia, é vital que a nossa comunicação social se aprume e pense em estratégias de comunicação menos agressivas e de espetacularização, senão deixará de poder culpar as novas formas de consumo de conteúdo que nos oferecem mais que uma peladinha política.
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