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Foto do escritorClara Anastácio

O que faz falta é (animar) avisar a malta!

Celebra-se hoje o quinquagésimo aniversário da conquista da liberdade. Nasci e cresci em liberdade. 

Nem sempre é nítido para a minha geração pensar num país onde a liberdade não se encontre. É um direito tão intrínseco em nós, que chega a ser banalizado.  Contudo, se tivermos atentos conseguimos analisar que inconscientemente existem decisões que tomamos na nossa vida por existir liberdade. Nasci num hospital privado porque os meus pais assim o decidiram. Estudei numa escola pública porque os meus pais assim o decidiram. Atualmente estudo numa universidade pública porque eu assim o decidi. Foram estas decisões livres que permitiram o meu desenvolvimento pessoal, académico (e quiçá) profissional. 


Um conjunto de pessoas de vários espectros políticos permitiram que uma jovem de 19 anos tivesse o direito à liberdade e, por isso, vivo uma vida privilegiada repleta de escolhas e oportunidades. O direito à liberdade vem sempre com o dever de memória.

E se bem sei que a minha geração não tem memória em vida de ausência de liberdade, também sei que há uma geração mais velha que não a consegue esquecer. O facto de ser algo distante de muitos jovens de 19 anos leva a que muitos de nós não lhe deem o devido valor. Nesse sentido, é crucial reforçar a ideia de que esta conquista trouxe-nos acesso a um conjunto de livros, peças de teatro, músicas, aulas de histórias e acima de tudo a uma geração mais velha recheada de histórias e lembranças de um tempo a que não querem voltar.  


O que faz falta é (animar) avisar a malta!


De que existiam livros proibidos, de que a educação era limitada e de que o pensamento era censurável. De que as mulheres não podiam trabalhar e sair do país sem autorização do conjugue. De que não existiam lojas e restaurantes internacionais. 

Mais do que nunca, importa reforçar que esta conquista é fruto de um conjunto de pessoas, da esquerda para a direita, que quebraram um regime ditatorial. Não se remete a uma luta meramente ideológica de esquerda, mas sim a uma luta por um regime político democrático. Se aqueles homens e mulheres daquela geração foram corajosos e lutadores perante a adversidade, o desafio que se coloca à nossa geração é a manutenção da conquista da mesma. 


Sendo eu alguém que acredita que as empresas são essenciais para o fortalecimento da nossa economia e da nossa qualidade de vida, afirmo que a maior empresa que há na vida é a liberdade - é esta que nos permite seguir os nossos sonhos e ter oportunidade de decidir o que queremos ser. 


Manifestação de pessoas no largo do carmo
Salgueiro Maia fala aos presentes no Largo do Carmo

O crescimento de ideologias que nada defendem este valor faz com que vivamos tempos em que apesar de existir liberdade o julgamento de um pensamento diferente é cada vez mais criticável. Fecham-nos em caixinhas com cores diferentes e querem que pensemos todos de maneira igual. Rotulam-nos entre os bons e os maus, os que pagam impostos e os que vivem às contas deles. Os portugueses e os estrangeiros.  Os iluminados e os que seguem a corrente. Os que não têm medo de levantar a voz no café e os que que querem falar construtivamente. Os que não acreditam no jornalismo e os “parvos” que ainda acham que o jornalismo é importante. 


A liberdade deu-me a possibilidade de ter ideias mais liberais, socias ou até mesmo conservadoras - apenas com a condição de não retirar liberdade a ninguém. Quando olho para o crescimento destas ideias receio que estes rótulos que apregoam comecem a ser válidos para muitos da minha geração. Contudo, acredito convictamente na ideia de que não somos “tontos” e que com o passar do tempo vamos mostrar a todos os iluminados que a nossa geração conhece a nossa história e os seus valores. 

 

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