A vitória da AD nas eleições de 10 de março teve um sabor amargo, conseguindo apenas mais 2 deputados do que o PS. O Chega cresce de maneira exponencial, alcançando 50 deputados. A esquerda não tem maioria no parlamento, e Montenegro diz manter a sua palavra de que não fará coligação ou qualquer acordo com o Chega. Temos a Assembleia da Republica dividida em 3 blocos diferentes: A esquerda, liderada pelo PS, o centro-direita, incluindo o PSD, CDS e a IL, e a extrema-direita.
Montenegro terá uma difícil tarefa de chefiar um governo minoritário que parece já ter prazo de validade, tendo em conta a instabilidade política que existe de momento no país. À esquerda, os partidos já se preparam para dialogar e construir uma oposição construtiva contra o governo da AD. O Chega, pedinchando por lugares no governo, vai fazendo as suas birras e testando a palavra de Montenegro perante um cenário em que a direita tem maioria, mas não há entendimento entre o bloco de centro-direita e a extrema direita. Não será a esquerda a suportar o governo de Montenegro, nem parece que seja também essa a intenção de André Ventura, quando este tentará capitalizar ainda mais com a instabilidade existente para retirar ganhos políticos.
Este cenário irá exigir uma habilidade política extraordinária por parte do novo primeiro ministro, e testará a capacidade de diálogo e de negociação do PSD para conseguir apresentar resultados. A maior parte do seu trabalho passará por governar por decreto e evitar batalhas parlamentares que estagnem o trabalho do governo, onde encontrará oposição feroz à esquerda, e à extrema direita. A experiência de líder parlamentar de Montenegro irá ser fundamental para controlar a narrativa política e passar a imagem de um governo que faz o que pode, vitimizando-se perante o PS e o Chega, os dois partidos que mais dores de cabeça irão dar a este governo. Forçar a oposição a criar os debates parlamentares poderá ser interessante para perceber as dinâmicas da esquerda e da extrema-direita, se irão impedir qualquer proposta de lei, o que poderá dar uma oportunidade ao governo de se vitimizar, ou se irão avaliar medida a medida e dar uma oportunidade para o governo ir trabalhando. Nos primeiros dias, é importante que Montenegro apresente medidas populares nomeadamente nos salários da função pública ou na saúde. O plano de “choque fiscal” do programa da AD pode também estar em risco com as novas regras de agravamento da despesa da União Europeia.
No entanto, se Montenegro conseguir cumprir isto ao mesmo tempo que mantém a porta fechada ao partido de André Ventura, não só é uma demonstração de uma grande habilidade política do presidente do PSD, como poderá garantir a sobrevivência do governo ou até do partido numas próximas eleições, especialmente se conseguir estancar o crescimento do Chega ou até roubar-lhes votos.
A tarefa será difícil e creio que Montenegro ainda terá de provar que é capaz de alcançar isto. Há muita incerteza quanto à durabilidade deste governo, que parece estar condenado ao fracasso. Eu próprio apostava em como os portugueses terão de ir às urnas mais uma vez este ano para escolher a composição da assembleia. Mas o primeiro teste será as europeias, e é importante que Montenegro ganhe com alguma vantagem para demonstrar força e dar balanço ao PSD. Depois, tudo o resto será jogo político e controlo da narrativa. Veremos se o antigo ponta-de- lança de Espinho consegue surpreender.
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